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Arte Notes.

Anotações artísticas, Ambiente & Direitos Humanos por Ana Branco.

Arte Notes.

Anotações artísticas, Ambiente & Direitos Humanos por Ana Branco.

"Desobedecer"

30.11.21

 

Livro

 

Até que ponto é legítimo obedecer? É em torno desta questão central que Frédéric Gros constrói um contundente ensaio sobre a política contemporânea e sobre a nossa relação quotidiana com os desmandos que imperam na vida pública: as muitas contradições do sistema democrático; os discursos de ódio; a linguagem do mundo político; as desigualdades que proliferam a largos passos, mescladas a discursos de integração, igualdade e liberdade. O autor afirma que aceitamos o inaceitável e que existe já um panorama tão grave que justificaria o que ele apelida de “dissidência cívica”. São três as situações intoleráveis, que, segundo o autor, aceitamos de modo mais ou menos dócil.

A primeira diz respeito ao aprofundamento das injustiças sociais e das desigualdades de fortuna. “O duplo processo de enriquecimento dos ricos e de empobrecimento dos pobres provoca o colapso progressivo da classe média”, a qual foi, segundo o autor, responsável por impor certos limites à extrema pobreza e à extrema riqueza. Juntamente a esse colapso, ideias reguladoras que serviam de base à compreensão do mundo democrático, utilidade geral ou bem público, também acabam por desbotar, por perder o vigor e o brilho que tinham ao menos como pano de fundo, como ideal de coordenação do espaço comum.

“Falar de injustiça, acrescenta Gros, tornou-se obsoleto. Nós estamos na era da indecência”. A fria linguagem do formalismo matemático entra em cena para justificar as ações governamentais, tendo como base sobretudo saldos e débitos, juros e promessas de receita. As pessoas também desbotam diante das estatísticas, já não estão mais no horizonte palpável das preocupações dos gestores públicos.

O segundo inaceitável é a degradação progressiva do meio ambiente. O uso abusivo dos recursos é estimulado por um modo de vida onde o consumo se apresenta como uma espécie de soma – para lembrar o Admirável mundo novo, de Huxley, também citado pelo autor. O império da técnica é outro elemento a impulsionar essa busca frenética de consumo que tem como contrapartida uma potência latente de desumanização. “Se por séculos tentámos proteger-nos da Natureza por meio da técnica, doravante é a Natureza que precisa ser protegida da técnica”.

A terceira situação inaceitável diz respeito ao processo contemporâneo de criação de riquezas, que aponta para o carácter difuso, complexo e proteiforme do capitalismo. O capitalismo contemporâneo encontrou uma forma ainda mais desumanizadora que a exploração do trabalho para produzir riqueza, a saber, através do endividamento e da especulação, gerando como subproduto uma desvalorização gradativa do próprio trabalho.

 

Um pintor invisível que encontrou motivação no terrível

28.11.21

 

Joan Ponç i Bonet «Composition» (1947)

«Composition» (1947)

"Nunca he temido a lo terrible, pues siempre me ha enriquecido”

Para Ponç i Bonet, a pintura era um instrumento para percorrer o mistério rumo ao mundo sobrenatural. Místico, filósofo, visionário; este ser atormentado que encontrou nos pincéis o veículo ideal para capturar a essência de mundos tão reais, quanto sórdidos e enterrados, dizia que “Pintar es como amar. No puedo concebir ninguna de estas cosas sin intimidad absoluta”.

 

"The Clod and the Pebble"

28.11.21

 

wikipedia

"Love seeketh not itself to please,
Nor for itself hath any care,
But for another gives its ease,
And builds a Heaven in Hell's despair."

So sung a little Clod of Clay
Trodden with the cattle's feet,
But a Pebble of the brook
Warbled out these metres meet:

"Love seeketh only self to please,
To bind another to its delight,
Joys in another's loss of ease,
And builds a Hell in Heaven's despite."

 

Poeta, pintor, tipógrafo e visionário, William Blake nasceu a 28 de Novembro de 1757. Trabalhou para provocar uma mudança na ordem social e na mente dos homens. Embora durante a sua vida o seu trabalho tenha sido amplamente negligenciado ou rejeitado, é agora considerado uma das principais luzes da poesia inglesa, e o seu trabalho só cresceu em popularidade.

 

Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres

25.11.21

 

Instituído pela Resolução 52/134 da ONU, 25 de Novembro assinala o Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres com o propósito de alertar para este grave problema que atinge as mulheres a nível psicológico ou físico, tanto em casa como no local de trabalho.

«A Secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade, Rosa Monteiro, e a Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género lançam hoje a campanha #PortugalContraAViolência, com a colaboração da AMCV – Associação de Mulheres Contra a Violência, Associação Projeto Criar, Associação Ser Mulher, APAV – Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, Associação Plano I, Associação Portuguesa de Mulheres Juristas, Coolabora, Cruz Vermelha Portuguesa, Movimento Democrático de Mulheres, Mulheres Século XXI, UMAR – União das Mulheres Alternativa e Resposta e Quebrar o Silêncio Associação.

A campanha, divulgada em vários órgãos de comunicação social de âmbito nacional, regional e local, salas de cinema, meios de transporte, postos de combustíveis, hipermercados e rede de multibancos, reforça a vigilância contra a violência doméstica e alerta para os impactos deste crime não só nas mulheres, mas também nas crianças.

O objetivo, num momento em que também os constrangimentos impostos pela pandemia COVID 19 provocaram desafios acrescidos, é consolidar o sentido de responsabilidade coletiva, transmitir confiança a cada mulher, na sua luta, e à sociedade em geral, no combate a este crime, bem como divulgar as respostas e mecanismos de apoio às vítimas.

A Rede Nacional de Apoio às Vítimas de Violência Doméstica (RNAVVD), que abrange atualmente 95% território nacional, incluindo respostas especializadas de atendimento e acolhimento, registou até final do passado mês de Setembro 97.172 atendimentos.»

A violência contra as mulheres e a violência doméstica é crime público e uma responsabilidade coletiva. Ligue 800 202 148 ou envie uma SMS para o 3060.

Eu sei ...

24.11.21

 

António Gedeão

 

Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:
com ele se entretém
e se julga intangível.

Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.

Eu sei que as dimensões impiedosas da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.


António Gedeão, pseudónimo de Rómulo de Carvalho, nasceu em Lisboa a 24 de Novembro de 1906.

 

Um Futuro Melhor para Cada Criança

20.11.21

 

 

Adoptada pela Assembleia Geral das Nações Unidas a 20 de Novembro de 1989 e ratificada por Portugal a 21 de Setembro de 1990, a Convenção dos Direitos da Criança é o mais ratificado de todos os tratados sobre direitos humanos.

Há 32 anos, os líderes mundiais fizeram uma promessa às crianças: vamos mantê-las em segurança, vamos ajudá-las a aprender e sempre defenderemos o seu direito a falar e serem ouvidas.

Um dia que é um lembrete para cumprir a promessa da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança uma vez que, actualmente, milhões de crianças em todo o mundo, incluindo 18 milhões na UE, vivem na pobreza ou na exclusão social. Muitos mais estão em risco.

 

Uma tentativa, porque não é uma certeza

19.11.21

 

Dia Mundial da Filosofia

 

Podemos entender a filosofia, num sentido restrito, como uma tentativa de compreender de forma racional, a totalidade do real, da qual decorre uma forma de agir. Nas suas origens, a filosofia não era só racionalidade, era também uma busca amorosa pela verdade e pelo sentido da vida. Com o filósofo grego Pitágoras origina-se a noção de Filosofia como um modo de vida, descrevendo o caminho traçado pelo mestre quando este chamou a si mesmo de philosophos, aquele que é amigo, ou que ama a sabedoria, aquele que empreende os seus melhores e maiores esforços na busca amorosa da verdade.

A filosofia é uma tentativa, porque não é uma certeza. Se fosse uma certeza, não haveria necessidade de sair em busca do conhecimento. Uma tentativa de compreender o real de forma racional, porque a filosofia não se vale da experiência, como o fazem as ciências, e nem tampouco se vale da fé, como o fazem as religiões, para tentar entender e explicar a realidade em que vivemos.

A filosofia tenta entender o real como um todo. E por totalidade do real deve-se entender tanto o mundo exterior como o mundo interior, ou seja, a filosofia no sentido de uma concepção do universo e a filosofia no sentido de uma concepção do eu; sendo que estes dois elementos essenciais da filosofia se intercalam e se completam. De todo este esforço da razão, para tentar compreender a realidade à nossa volta, decorre uma forma de agir porque é preciso, de alguma forma, intervir na sociedade em que vivemos, para melhorá-la e modificá-la, diante de todas as injustiças e perversidades que existem no mundo.

A busca da felicidade é uma constante do homem. A palavra felicidade remete-nos à condição existencial humana e a algo desejado. Por ela, elaboramos teorias, tomamos decisões, agimos individual e colectivamente. Podemos reflectir sobre o que é, ou o que não é. Geralmente relacionamo-la a condições materiais privilegiadas, como ser popular, ter honra, poder, glória e dinheiro. Em momentos de crise, ou como terapia para vícios tradicionais, a exemplo de orgulho, vaidade, inveja, raiva etc., buscamos livros de auto ajuda, muito em moda na sociedade contemporânea, a receita do bem-estar interior, da tranquilidade, da harmonia e da paz de espírito.

Todos estes sentimentos, aspirações e pensamentos, encobrem a situação e a posição que o homem ocupa no seu quotidiano e revelam a própria condição humana do seu tempo e no tempo, desde sempre na luta entre paixão e razão. No contexto actual, de complexidade e diversidade de informações, de conhecimentos e de relações, acrescidos pelo potencial (positivo e negativo) dos avanços tecnológicos e genéticos que fazem alguns conjecturarem sobre um futuro próximo, recolocam-se questões.

Aprendemos e educamo-nos, a despeito das teorias de ensino e de aprendizagem tradicionais, a não sermos apenas levados, ou conduzidos, pela mão do mestre. A aprendizagem é sempre do próprio sujeito. Por nossa própria conta, podemos aprender experimentando, ou simplesmente fazendo analogias, ou ainda usando a memória e a imaginação, a partir do nosso passado e do conhecimento da narrativa do passado dos outros, desde as histórias contadas e escritas até a literatura especializada.

As teorias e práticas educacionais, em qualquer época, com os seus condicionamentos sociais, económicos e políticos, possuem conceitos estruturantes, concepções e abordagens filosóficas, próprias de diferentes áreas de investigação. Desses pressupostos, surgem questões cruciais sobre a vida humana e a sua complexidade. Muitas destas questões são postas e repropostas por cada geração, tornando-se clássicas sem se esgotar, pois muitos problemas continuam os mesmos.

O que interessa à maioria dos mortais é agarrar-se ao “ter” (posses materiais e riquezas) como condição de ser feliz. Apostar exclusivamente nos “bens” é a melhor alternativa para uma vida humana feliz? Não se trata de um simples desejo banal, comum das pessoas, de “ter” ou “não ter”. O que está em jogo é a possibilidade da liberdade humana diante da aparência enganadora dos “bens”. A questão é uma reflexão puramente filosófica, empreendida por mentes que pensam.

É o destino da vida humana ter/perder os bens e pensar, erradamente, que a felicidade reside na sua posse. A "Fortuna", como era chamada pelos romanos (resultando mais tarde na popular alegoria e nos jogos da roda da fortuna), é presença dominante também na nossa sociedade consumista. Estas duas formas (ter e perder) são o destino, que é a lei de sucessão das coisas no tempo. E o destino está na via oposta da Filosofia, que é a sabedoria racional. A Filosofia mostra que o problema do homem está em escolher quem o vai dominar: o destino (Fortuna) ou a sabedoria racional.

 

Criatividade

17.11.21

 

 

O Dia Mundial da Criatividade, que se celebra a 17 de Novembro, tem como intuito enaltecer a sua importância para a vida humana.


«(...) Conforme referem José Gil e Isabel Cristóvam-Bellmann em A Construção do Corpo ou Escrita Criativa (1999) a criatividade compreende a qualidade de pensar de forma inovadora numa produção activa de reflexão, sentimento e acção com a finalidade de transformar e fazer surgir o novo como resposta às actividades mentais que se operam a partir de exercícios cognitivos e sensoriais. Os processos de criação demandam uma postura de ousadia por parte do indivíduo, pois o acto criativo pressupõe o desconhecido, o novo que quase sempre tem origem num estado caótico de organização das emoções e informações.

Ora, se entendemos que a criatividade faz parte de uma experiência que deve abrir possibilidades para a recepção do mundo de forma abrangente e múltipla “em que a acção produtiva gera algo de novo, algo de diferente, resultante da relação entre o carácter único do indivíduo e os objectos, acontecimentos, personalidades e situações que o envolvem” (Rogers: 1996 ), então não devemos fugir do facto de que a capacidade de criar é inerente ao ser humano, consolidando-se desde a produção de bens materiais até aos anseios poéticos que permitem atingir a transcendência.

De acordo com muitos autores, a criatividade está relacionada aos que se permitem observar, olhar e seguir o voo necessário para abstrair-se do mundo, sem contudo perder o vínculo com a realidade subjacente. O criativo assume, portanto, a identidade do louco, do artista e da criança ao entregar-se aos impulsos de criação e ao lançar-se na realização do futuro.

É necessário esclarecer que a criatividade é um processo exigente que recorre aos níveis mais elevados de abstracção, devendo encontrar um canal de concretização que pode ser o mais diverso possível, englobando uma produção variada que atenda às necessidades do corpo e da alma, mas que sobretudo redimensione a existência humana emprestando-lhe sentido e significado. Não resta dúvida de que os criativos conduzem a carruagem da renovação e propõem a reinvenção intelectual, filosófica, material, artística, cultural, social...

Numa sociedade onde cada vez mais as lacunas vão-se alargando e exigindo respostas concretas e úteis, não existe lugar para a criação pela criação e, talvez, mais do que nunca, exista neste momento uma imposição de dar a conhecer aos profissionais de diversas áreas que a criatividade tem a ver com uma das questões mais importantes do processo de humanização que consiste na caracterização do ser humano pela capacidade de desejar. (...)»


Joana Cavalcanti in "A Criatividade no processo de humanização"

 

Dia Internacional para a Tolerância

16.11.21

 

Tolerância

O Dia Internacional para a Tolerância celebra-se anualmente a 16 de Novembro, com o propósito de lembrar a importância, numa sociedade, de observar os valores democráticos como o respeito pelo outro e pelo que é diferente, genética ou culturalmente.

Ser tolerante significa reconhecer, aceitar e defender os direitos humanos fundamentais, para que viver em comunidade e em paz seja possível.

 

Poet's Walk

15.11.21

 

Terry Allen «Corporate Head»

 

A escultura de Terry Allen, "Corporate Head", representa um homem de negócios que parece ter a cabeça presa na parede de um prédio, no centro de Los Angeles, e é acompanhada por um poema de Philip Levine:

"They said I had a head for business.
They said to get ahead I had to lose my head.
They said be concrete & I became concrete.
They said, go, my son, multiply, divide, conquer.
I did my best."

A escultura de Allen, de 1990, e o poema de Levine encontram-se entre algumas instalações num local conhecido como Poet's Walk.

 

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