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Arte Notes.

Anotações artísticas, Ambiente & Direitos Humanos por Ana Branco.

Arte Notes.

Anotações artísticas, Ambiente & Direitos Humanos por Ana Branco.

Natal

25.12.21

 

 

Mais uma vez, cá vimos
Festejar o teu novo nascimento,
Nós, que, parece, nos desiludimos
Do teu advento!

Cada vez o teu Reino é menos deste mundo!
Mas vimos, com as mãos cheias dos nossos pomos,
Festejar-te, — do fundo
Da miséria que somos.

Os que à chegada
Te vimos esperar com palmas, frutos, hinos,
Somos — não uma vez, mas cada —
Teus assassinos.

À tua mesa nos sentamos:
Teu sangue e corpo é que nos mata a sede e a fome;
Mas por trinta moedas te entregamos;
E por temor, negamos o teu nome.

Sob escárnios e ultrajes,
Ao vulgo te exibimos, que te aclame;
Te rojamos nas lajes;
Te cravejamos numa cruz infane.

Depois, a mesma cruz, a erguemos,
Como um farol de salvação,
Sobre as cidades em que ferve extremos
A nossa corrupção.

Os que em leilão a arrematamos
Como sagrada peça única,
Somos os que jogamos,
Para comércio, a tua túnica.

Tais somos, os que, por costume,
Vimos, mais uma vez,
Aquecer-nos ao lume
Que do teu frio e solidão nos dês.

Como é que ainda tens a infinita paciência
De voltar, — e te esqueces
De que a nossa indigência
Recusa Tudo que lhe ofereces?

Mas, se um ano tu deixas de nascer,
Se de vez se nos cala a tua voz,
Se enfim por nós desistes de morrer,
Jesus recém-nascido!, o que será de nós?!


José Régio in “Obra Completa”

 

Sociedade portuguesa mais desigual com risco de pobreza a aumentar

21.12.21

 

Segundo o INE, em 2020 - 2021 o risco de pobreza em Portugal aumentou para 18,4%, mais 2,2 pontos percentuais do que em 2019. O crescimento do risco de pobreza foi mais severo no caso das mulheres, em particular no caso das mulheres idosas.

Em 2021 (rendimentos de 2020), em Portugal, 2 302 milhares de pessoas encontravam-se em risco de pobreza ou exclusão social. Portugal foi, em geral, uma sociedade mais desigual em 2020 uma vez que o coeficiente de Gini - que reflete as diferenças de rendimentos entre todos os grupos populacionais - registou um valor de 33,0%, mais 1,8 p.p. do que no ano anterior (31,2%), e o rácio S80/S20, cresceu 14%, de 5,0 em 2019 para 5,7 em 2020. A desigualdade aumentou em todas as regiões, à exceção da Região Autónoma dos Açores. A região Centro foi aquela em que a desigualdade mais aumentou.

Sobre o impacto da pandemia COVID-19 no rendimento dos portugueses, o inquérito realizado em 2021 revelou que:

- entre Maio e Setembro de 2021, 16,4% das famílias referiram a redução do rendimento familiar nos 12 meses anteriores, valor que se mantém bastante superior ao obtido em pré-pandemia (10,3% em 2019); 27,5% das famílias que referiram a redução do rendimento familiar, indicaram como motivo a pandemia COVID-19;

- 5,0% das famílias referiram ter recebido apoios monetários do Estado em 2020 no âmbito da COVID-19 relacionados com o emprego dos trabalhadores por conta de outrem; 2,9% das famílias receberam apoios relacionados com o trabalho por conta própria; e 2,4% das famílias receberam apoios monetários relacionados com a família, as crianças e a habitação.


Para quem não tenha conhecimento, a taxa de de privação material corresponde à proporção da população em que se verificam pelo menos três das seguintes nove dificuldades:

a) Sem capacidade para assegurar o pagamento imediato de uma despesa inesperada próxima do valor mensal da linha de pobreza (sem recorrer a empréstimo);

b) Sem capacidade para pagar uma semana de férias, por ano, fora de casa, suportando a despesa de alojamento e viagem para todos os membros do agregado;

c) Atraso, motivado por dificuldades económicas, em algum dos pagamentos regulares relativos a rendas, prestações de crédito ou despesas correntes da residência principal, ou outras despesas não relacionadas com a residência principal;

d) Sem capacidade financeira para ter uma refeição de carne ou de peixe (ou equivalente vegetariano), pelo menos de 2 em 2 dias;

e) Sem capacidade financeira para manter a casa adequadamente aquecida;

f) Sem disponibilidade de máquina de lavar roupa por dificuldades económicas;

g) Sem disponibilidade de televisão a cores por dificuldades económicas;

h) Sem disponibilidade de telefone fixo ou telemóvel, por dificuldades económicas;

i) Sem disponibilidade de automóvel (ligeiro de passageiros ou misto) por dificuldades económicas.

 

Una leyenda del flamenco

21.12.21

 

Nacido el 21 de diciembre de 1947 en Algeciras como Francisco Sánchez Gómez, a los 7 años cogió por primera vez una guitarra de la mano de su padre y luego de su hermano mayor.

Por su madre portuguesa fue conocido como "Paco, el de Lucía" - como en Andalucía - se suele identificar por el nombre de la madre, Lucía Gomes.

Desenhista nato

18.12.21

 

Paul Klee Self-Portrait (detail)
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Nascido a 18 de Dezembro de 1879, Paul Klee, considerado um dos grandes pintores europeus do início do século XX, foi influenciado por diversas tendências, como o expressionismo, o cubismo e o surrealismo, além de ter sido estudioso do orientalismo.

Desenhista nato, dominou a teoria das cores, sobre a qual escreveu exaustivamente. Num período artístico de revoluções e inovações, poucos artistas foram tão determinantes como Paul Klee. Além de produzir uma das mais importantes obras pictóricas da primeira metade do século XX, notabilizou-se pelos seus ensaios de reflexão teórica e como professor da escola Bauhaus, ao lado de nomes como Kandinsky.

 

Convictos

15.12.21

Desenho

 

Era uma vez, lá longe da utopia, um reino de reinados. Cada um, dos reinados do reino, carregava sempre consigo uma caixa fechada.

Cada caixa continha algo. Nenhum dos reinados tinha interesse no conteúdo de cada caixa; tanto quanto sabiam saber, todas as outras caixas, além da sua, estavam vazias.

Mesmo não experienciando o conteúdo das caixas fechadas, cada reinado afirmava existir o mundo dentro da sua caixa.

E assim permaneceram.
Convictos.

 

Dia Internacional dos Direitos Humanos

10.12.21

 

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Nas palavras de Kant:

Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outra, sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio.


O primado da pessoa é o do ser, não o do ter, a liberdade prevalece sobre a propriedade. No entanto, o indivíduo do mundo plural, conflitual e em acelerada mutação do nosso tempo encontra-se muitas vezes dividido por interesses, solidariedades e desafios discrepantes.

O art. 1 da Declaração Universal precisa e explicita a concepção de pessoa, recolhendo as inspirações de diversas filosofias e, particularmente, de diversas correntes jusnaturalistas:

«Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade»

Cada pessoa tem de ser compreendida em relação com as demais, sendo que a dignidade de cada pessoa pressupõe a de todos os outros.

O Dia Internacional dos Direitos Humanos é comemorado anualmente a 10 de Dezembro, a data em que a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adoptada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1948.

A Declaração é um documento importante que proclama os direitos inalienáveis das pessoas independentemente da cor, religião, sexo, idioma, opinião política ou outra, origem nacional ou social, propriedade, nascimento ou de outro estatuto. A Declaração Universal dos Direitos Humanos capacita-nos. Os princípios, consagrados na Declaração, são tão relevantes hoje quanto o eram em 1948. É tão importante defender os nossos direitos como os dos demais.

Analisando as ameaças mais graves que a humanidade enfrentava, Aldous Huxley (1894-1963) recomendou que uma Carta de Direitos mundial deveria incluir esforços para aumentar os recursos disponíveis, visando atender às necessidades da população do mundo; limitar o poder daqueles que, por meio da sua riqueza e posição hierárquica, efectivamente dominam as massas de homens e mulheres comuns e sem privilégios que constituíam a maioria; e controlar melhor as ciências aplicadas.

Aldous Huxley dissertou sobre essas sugestões na sua resposta à pesquisa da UNESCO sobre as fundamentações filosóficas dos direitos humanos, enviada em Junho de 1947 sob o título «The Rights of Man and the Facts of the Human Situation», da qual partilho um pequeno excerto:

«(…) Uma Carta de Direitos constitucional, cujos princípios estejam aplicados em legislação específica, pode certamente fazer algo para proteger as massas, de homens e mulheres comuns e sem privilégios, contra aqueles que, por meio da riqueza ou posição hierárquica, exercem efectivamente o poder sobre a maioria. No entanto, prevenir é sempre melhor que remediar. Meras restrições em papel, projectadas para limitar o abuso de poder, já concentrado em poucas mãos, são apenas mitigações de um mal existente. A liberdade pessoal somente pode ser assegurada abolindo o mal por completo.(...)»

 

"alma sonhadora"

08.12.21

 

Florbela Espanca

 

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!


Nascida a 8 de Dezembro de 1894, em Vila Viçosa, Florbela Espanca teve um grande impacto e influência entre seus pares e o público, tanto do seu tempo como de tempos posteriores. Fernando Pessoa, num poema dactilografado e não datado, de nome "À memória de Florbela Espanca", descreve-a como "alma sonhadora/ Irmã gémea da minha!".

 

Chomsky

07.12.21

 

Imagem

 

Nascido a 7 de Dezembro de 1928, Noam Chomsky tem sido, ao longo de mais de quatro décadas, um proeminente linguista e um destacado activista político.

«Desde os anos oitenta que se vive uma ruptura entre o que as pessoas desejam e as políticas públicas. É fácil ver isso no caso dos impostos. As pesquisas mostram que a maioria quer impostos mais altos para os ricos. Mas isso nunca se leva a cabo. Frente a isso, promoveu-se a ideia de que reduzir impostos traz vantagens para todos e que o Estado é o inimigo. Mas quem se beneficia da redução de verbas para estradas, hospitais, água limpa e ar respirável?

O neoliberalismo existe, mas só para os pobres. O mercado livre é para eles. Essa é a história do capitalismo. As grandes corporações empreenderam a luta de classes, são autênticos marxistas, mas com os valores invertidos. Os princípios do livre mercado são óptimos para ser aplicados aos pobres, mas os muito ricos são protegidos. As grandes indústrias de energia recebem subvenções de centenas de milhões de dólares, a economia de alta tecnologia beneficia-se das pesquisas públicas de décadas anteriores, as entidades financeiras obtêm ajuda maciça depois de afundar…

Todas elas vivem com um seguro: são consideradas muito grandes para cair e são resgatadas se têm problemas. No fim das contas, os impostos servem para subvencionar essas entidades e com elas, os ricos e poderosos. Mas, além disso, diz-se à população que o Estado é o problema e reduz-se o seu campo de acção. E o que ocorre? O seu espaço é ocupado pelo poder privado, e a tirania das grandes corporações fica cada vez maior.»

in “El Pais”

 

Ary

07.12.21

 

livro

 

Caminharemos de olhos deslumbrados
E braços estendidos
E nos lábios incertos levaremos
O gosto a sol e a sangue dos sentidos

Onde estivermos, há-de estar o vento
Cortado de perfumes e gemidos.
Onde viveremos, há-de ser o templo
Dos nossos jovens dentes devorando
Os frutos proibidos

No ritual do verão descobriremos
O segredo dos deuses interditos
E marcados na testa exaltaremos
Estátuas de heróis castrados e malditos.


Poeta e declamador, José Carlos Ary dos Santos nasceu no dia 7 de Dezembro de 1937. Escreveu mais de seiscentos poemas para canções. Na sua juventude, publicou alguns poemas em antologias, mas a sua verdadeira estreia literária deu-se com a publicação da obra "A Liturgia do Sangue" (1963). A sua obra situa-se no movimento estético do Novo Realismo, um movimento artístico que se desenvolveu na Europa – sobretudo centrado em França - no final dos anos 50.

 

Dia Internacional para a Abolição da Escravatura

02.12.21

Street Art

 

O Dia Internacional para a Abolição da Escravatura assinala-se, anualmente, a 2 de Dezembro. A data é celebrada no âmbito da adoção da «Convenção das Nações Unidas para a Supressão do Tráfico de Pessoas e da Exploração da Prostituição de Outros», pela Assembleia Geral da ONU, a 2 de Dezembro de 1949.

Esta data procura alertar para a existência de situações de escravidão que, segundo a Organização Internacional do Trabalho, atingem mais de 40 milhões de pessoas em todo o mundo. A escravatura desenvolveu-se e manifesta-se de diferentes formas ao longo da história. Hoje, persistem ainda algumas formas antigas, mas algumas foram transformadas e criadas, nomeadamente o tráfico de pessoas, a exploração sexual, formas de trabalho infantil forçado, o casamento forçado e o recrutamento de crianças para os conflitos armados.

A escravatura e a sua persistência nas sociedades contemporâneas, são resultado de uma discriminação a longo-prazo contra os grupos mais vulneráveis na sociedade, nomeadamente os de castas sociais inferiores, as minorias tribais e as pessoas indígenas.

 

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