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Arte Notes.

Anotações artísticas, Ambiente & Direitos Humanos por Ana Branco.

Arte Notes.

Anotações artísticas, Ambiente & Direitos Humanos por Ana Branco.

Livro XIX

26.02.22

Desenho

 

Santo Agostinho
A Cidade de Deus (413-426)
Livro XIX, cap.7: Diversidade de Línguas e Miséria das Guerras

Depois da cidade ou da urbe vem o orbe da terra, terceiro grau da sociedade humana, que percorre os seguintes estágios: casa, urbe e orbe. O universo é como o oceano das águas: quanto maior, tanto mais escolhos. A principal causa da separação entre os homens é a diversidade de línguas. Suponhamos que em viagem se encontram duas pessoas; uma ignora a língua da outra, mas por necessidade têm de caminhar juntas grande trecho. Os animais mudos, embora de espécie diferente, associam-se de modo mais fácil que essas duas pessoas, apesar de seres humanos. E quando, unicamente por causa da diversidade de línguas, os homens não podem comunicar uns aos outros o que pensam, de nada serve para associá-los a mais pura semelhança de natureza. Tanto assim que em tal caso o homem está melhor em companhia de seu próprio cão que de homem estranho. Todavia, dir-se-á, aconteceu que cidade feita para imperar não apenas impôs o jugo, mas também o domínio social e pacífico de sua língua às nações dominadas e tal conquista preveniu a carência de intérpretes. É verdade, mas à custa de quantas e que enormes guerras, de quanta devastação e de quanto derramamento de sangue se conseguiu! Passaram esses males e, contudo, a miséria deles não se acabou. Embora certo que não faltaram, nem faltam, nações estrangeiras inimigas contra as quais se travaram e ainda hoje se travam guerras, a própria grandeza do império deu origem a guerras de pior tipo, às guerras sociais e às civis. Por causa delas o género humano padece tremendos choques, tanto quando se guerreia para conseguir a paz, como quando se teme novo recrudescimento. Se quiséssemos expor como merecem os mil e um estragos produzidos por tais males, suas duras e inumanas crueldades, embora por uma parte me fosse impossível pintá-las, como exigem, qual seria, por outra, o fim de tão prolixas palavras?

O sábio, acrescentam, há-de travar guerras justas. Como se o sábio, cônscio de ser homem, não sentirá muito mais ver-se obrigado a declarar guerras justas, pois, se não fossem justas, não devia declará-las e, portanto, para ele não haveria guerras! A injustiça do inimigo é a causa do sábio declarar guerras justas. Semelhante injustiça, embora não acompanhada de guerra, simplesmente por ser tara humana, deve deplorá-la o homem. É evidente, por conseguinte, que neles reconhece a miséria quem quer que considere com dor males tão enormes, tão horrendos e inumanos. Quem os tolera e considera sem dor é muito mais miserável ao julgar-se feliz, porque perdeu o sentimento humano.


Livro XIX, cap.12: Paz, Suprema Aspiração dos Seres

Quem quer que repare nas coisas humanas e na natureza delas reconhecerá comigo que, assim como não há ninguém que não queira sentir alegria, assim também “não há ninguém que não queira ter paz”. Com efeito, os próprios amigos da guerra apenas desejam vencer e, por conseguinte, anseiam, guerreando, chegar à gloriosa paz. E em que consiste a vitória senão em sujeitar os rebeldes? Logrado esse efeito, chega a paz. A paz é, pois, também o fim perseguido por aqueles mesmo que se afanam em demonstrar valor guerreiro, comandando e combatendo. Donde se segue ser a paz o verdadeiro fim da guerra. O homem, com a guerra, busca a paz, mas ninguém busca a guerra com a paz. Mesmo os que de propósito perturbam a paz não odeiam a paz, apenas anseiam mudá-la a seu talante.

Sua vontade não é que não haja paz, e sim que a paz seja segundo sua vontade. Se por causa de alguma sedição chegam a separar-se de outros, não executam o seu intento, se não têm com os cúmplices uma espécie de paz. Por isso, os bandoleiros procuram estar em paz entre si para alterar com mais violência a paz dos outros. Se existe algum salteador tão forçudo e inimigo de companhia que não confie em ninguém e sozinho assalte, mate e se entregue à pilhagem, tem pelo menos uma espécie de paz, seja qual for, com aqueles que não pode matar e de quem quer ocultar o que faz. Em casa procura viver em paz, com a esposa, com os filhos, com os domésticos, se tem, e gosta de que, sem abrirem a boca, lhe obedeçam à vontade. Se não lhe obedecem, fica zangado, ralha e castiga e, se a necessidade o exige, restabelece com crueldade a paz familiar. Vê a impossibilidade de existir paz na família, se os membros não se submetem ao chefe, que em sua casa é ele. Se alguma cidade ou povo quisesse submeter-se a ele, como desejava lhe estivessem sujeitos os de casa, já não se esconderia como ladrão em nenhuma caverna, mas andaria de cabeça erguida à vista de todos, porém com a mesma cupidez e malícia. Todos desejam, pois, ter paz com aqueles a quem desejam governar a seu arbítrio. E, quando querem fazer guerra a outros homens, querem primeiro fazê-los seus, se podem, para depois impor-lhes as condições de sua paz.

Quem sabe antepor o recto ao torto e a ordem à perversidade reconhece que, comparada com a paz dos justos, a paz dos pecadores não merece sequer o nome de paz. O antinatural ao contrário à ordem há-de necessariamente estar em paz em alguma, de alguma e com alguma parte das coisas em que é ou de que consta. Do contrário, deixaria de ser.

(...)

in "Direitos Humanos. Uma Antologia.

Principais Escritos Políticos, Ensaios e Documentos Desde a Bíblia Até o Presente"

 

"The Moral Equivalent of War"

25.02.22

Livro

 

William James, considerado o "pai" da psicologia norte-americana, no ensaio "The Moral Equivalent of War", escrito em 1906 e voltando a ser publicado em 1910 na edição inaugural da "Peace and Conflict: Journal of Peace Psychology" (evidenciando a relevância dada ao autor no seio da Psicologia da Paz), surpreendeu a comunidade académica ao referir-se aos atractivos da guerra.

De acordo com o autor, a guerra oferece aos indivíduos a oportunidade de expressar virtudes como a lealdade, a honra, ou a disciplina. Junta as pessoas, não só os que realmente vão para o campo de batalha, mas toda a comunidade. Trás um sentimento de coesão, com objectivos comuns e inspira o cidadão (não só os soldados) a comportarem-se com honra e altruísmo, em prol de um bem maior. Consequentemente, para acabar com a guerra, seria necessário as sociedades encontrarem equivalentes morais alternativos para a expressão dessas virtudes.

 

"Ano Comum"

22.02.22

Livro

 

«(...)
Dia 61.

Atravessei o buraco da agulha. Do outro lado, um mundo surpreendente. Nem freguesias, nem distritos, nem países, sequer. Quero dizer, não há nações. E não há discursos, nem propaganda. Os pobres não são pobres, porque não há ricos. Há coragem. E conta muito a opinião dos outros. Ninguém conhece o roubo. Não há polícias, existem apenas pessoas que se respeitam e acreditam. E confiam. E há sempre respostas para as perguntas. Não há necessidade de provedores nem reguladores nem promotores públicos. As fechaduras têm como função evitar que as portas batam e os Bancos têm como função evitar que, pontualmente, as pessoas tenham dificuldades. O trabalho é organizado conforme as aptidões de cada um e o ensino regulado pelos que sabem ensinar. Os salários são justos e suficientes. Assim como os impostos. Os museus estão cheios de visitantes. Ninguém deixa de pagar o que pede emprestado e o governo democraticamente eleito é constituido pelos cidadãos mais competentes em cada área. A sua primeira preocupação é a qualidade de vida dos cidadãos. Há um Ministério do Amor. E um coeso Sindicato de escritores, artistas e músicos. Não se utilizam recibos verdes, nem azuis, nem de qualquer outra cor. Foram extintas as armas, banidas as guerras. Desconhece-se a corrupção e ninguém parece saber o que são as drogas. O mercado é transparente, as acções são de valor firme porque são as imputadas ao valor moral de cada cidadão. A única violência conhecida é a da natureza. E Deus já não é preciso. Fez, bem feito, o que pôde e o que soube, e deixou o restante entregue à capacidade dos homens. Se quiserem atravessar também o buraco da agulha, inscrevam-se. Quem ainda não souber assinar, faça uma cruz.»

 

Mark Lanegan

22.02.22

 

wikipédia

Participou em vários álbuns dos Queens of the Stone Age, Mondo Generator, Masters of Reality, The Twilight Singers, e de artistas como PJ Harvey, Melissa Auf der Maur, entre outros.

Reconhecido pela sua voz rouca e soturna, Mark Lanegan (25 de Novembro de 1964 – 22 de Fevereiro de 2022) começou a sua carreira ao lado da banda Screaming Trees, que fez parte da cena grunge de Seattle.

 

Dia Mundial da Justiça Social

20.02.22

 

O Dia Mundial da Justiça Social, que se assinala este domingo, 20 de Fevereiro, tem como tema “Conquistar Justiça Social por meio do Emprego Formal”.

A justiça social deveria ser a base da nossa sociedade, da paz e da prosperidade das nações. Motivadas por factores como género, idade, etnia, religião, cultura, incapacidade e geografia, as desigualdades permanecem.

Segundo Guy Ryder, diretor-geral da Organização Internacional do Trabalho (OIT), as divisões económicas e sociais aumentaram, sendo que as pessoas que já estavam em desvantagem antes da Covid-19 (jovens, mulheres, migrantes e pequenos comerciantes) foram ainda mais afetadas, afirmando que a pandemia “exacerbou desigualdades, dentro e entre os países, a chamada grande divergência".

O chefe da OIT afirma que o Dia Mundial da Justiça Social 2022 acontece num “ponto de inflexão”, quando os formuladores de políticas “estão a remodelar a recuperação da pandemia”. Gyder destaca que o que for feito definirá os rumos da mudança e com as medidas certas, será possível moldar a economia de maneira correta.

Formalizar o sector de empregos informais precisa ser a prioridade, lembra o chefe da OIT, pois esses trabalhadores devem ter os seus direitos e proteção respeitados. Guy Ryder lista algumas medidas que devem ser tomadas: garantir a proteção social universal; melhorar a proteção dos empregados; promover o emprego decente e o crescimento económico inclusivo e criar a transição para uma economia global neutra em carbono.

 

“O mestre da guitarra portuguesa”

16.02.22

 

Carlos Paredes

 

Um dos maiores guitarristas portugueses e um grande compositor, Carlos Paredes foi um dos principais responsáveis pela popularidade e pela divulgação da guitarra portuguesa. “O mestre da guitarra portuguesa” ou “O homem dos mil dedos”, como era conhecido, nasceu a 16 de Fevereiro de 1925, em Coimbra.

“A música que faço é um produto das circunstâncias imediatas do tempo em que eu vivo, e passará a ser encarada de outra forma quando essas circunstâncias desaparecerem. É uma coisa que, se perdurar graças aos discos, ficará apenas com o valor de documento, como acontece com toda a pequena música, desde os Beatles ao Manuel Freire. E já ficarei muito orgulhoso se, daqui a muitos anos, puder ser entendido como um compositor que se integrava bem nos acontecimentos desta época”.

in ‘Se7e’ (5.10.1983)

 

No deserto dos buracos....

14.02.22

Desenho

 

...há buracos vazios à procura de cores.
Cores de todas as cores preenchidas.
Cores que encham e preencham.
Cores prometidas e permitidas que permitam vidas.

Mas as cores não preenchem a vida,
é a vida que se preenche de cores.

No deserto dos buracos,
há buracos que se afastam e buracos que são afastados,
por de cores não quererem ser tapados.

No deserto dos buracos,
há buracos que se afundam e aprofundam,
encontrando-se,
alinhando-se pelo fundo profundo em que se encontram.

 

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