![Livro]()
(…)
E a primavera chega como de costume.
O fim do mês também.
A Páscoa aproxima-se com a provocação aliciante de projectos para férias que se gozam em imaginação. Há quem os realiza.
O custo de vida prossegue a sua carreira ascendente.
O «Marcelo» vai falar na televisão. Está anunciado.
Diz-se que quando o «Marcelo» fala há sempre um artigo de consumo que aumenta. Prognosticar qual será, é o entretenimento tragicómico de alguns.
Aproximam-se os feriados da semana santa.
Estabelecem-se os primeiros contactos para reuniões caseiras de assistência ao festival da Eurovisão.
Passou o festival e os feriados também.
A vida calma, em ordem, continua.
Folheando mais diários das sessões.
(…)
«Portugal e o Futuro» do general Spínola é o maior êxito literário de há muitos anos a esta parte.
Ainda se fala do Festival Internacional da Canção.
O papel na Bolsa continua a cair.
A pequena poupança nunca mais se equilibrará.
O Governo vai rever a situação dos funcionários públicos. Amargo, há quem comente – vão dar por um lado e tirar pelo outro.
Os relatórios, balanços e contas das sociedades anónimas continuam a preencher o espaço dos jornais. E os ministros, secretários e subsecretários espalham-se pelo País nas suas digressões erráticas.
Pausas no trabalho…
Somos um dos povos mais mal informados do mundo.
As emissões da BBC em língua portuguesa, captam-se com a mesma ansiedade dos anos quarenta.
Em muitas casas os relógios voltaram a acertar pelo Big Ben. Rádio Argel é a voz de Portugal livre. Os noticiários transmitidos são considerados fidedignos.
Há muito que a imprensa portuguesa deixou de merecer o respeito da opinião pública. A imagem projectada pelos periódicos nacionais vem prejudicada por aquilo que o leitor sente ser o compromisso de uma informação sujeita a censuras. A que é imposta às redacções por uma direcção, controlada pela mão férrea das administrações, uma vez que só subtilmente transparece nas páginas de forma.
Hoje, os nossos jornais são propriedade de grupos financeiros que utilizam o «Quarto Poder» para jogar os seus interesses privados nos terrenos de confronto com os outros poderes públicos.
A outra censura, dita oficial, não tem necessidade de recorrer a subtilezas para fazer sentir uma força de autoridade ainda mais violentadora do que a primeira.
Assim, o jornal feito veículo condutor de opinião pública é um instrumento ao serviço de interesses particulares.
Os jornais portugueses enfastiam.
Todavia, por vezes, manifestam alguns sinais de independência.
(…)