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"A Ilha" recria uma Ordem ao serviço do indivíduo, das suas capacidades e do seu bem-estar, visando a sua realização global e satisfação plena. Seguindo os princípios do Utilitarismo Superior, que em 1946 Aldous Huxley escolheu como filosofia de vida para a sua comunidade utópica, Pala é “a ilha da liberdade e da felicidade”.
Em Pala vive-se uma espécie de Hedonismo espiritual, ao passo que no Estado Mundial o prazer é puramente material. O importante para os Palaneses é a felicidade de dentro para fora. Na Ordem palanesa todos os indivíduos existem para se realizarem, para se transformarem em seres humanos totalmente desenvolvidos.
Em Pala, ninguém pertence a ninguém. Respeita-se a multiplicidade e a diversidade e aspira-se à totalidade. Deste modo, a educação dos palaneses passa também por experimentar os diferentes trabalhos existentes na sociedade, desde a pesquisa científica até ao cortar de lenha. As diversas experiências contribuem, por um lado, para realizar as diferentes facetas de cada um e, por outro, para fomentar o maior respeito pelo outro. Através de "A Ilha", Huxley recria a possibilidade de uma existência sã de espírito. Os palaneses acreditam ser essencialmente sãos e naturalmente bons e não pecadores loucos, como o resto da humanidade, que navega no mesmo barco cósmico em naufrágio Perpétuo.
Em "A Ilha", a felicidade passa também por viver em equilíbrio com a Natureza. O caminho em direcção à Humanidade Total implica a descoberta e o culto de uma vivência em harmonia com todos os seres vivos, não só da ilha como também de todo o planeta. Por isso, a comunidade palanesa não navega em perpétuo naufrágio, mas sim à tona, perfeitamente integrada no movimento perpétuo do Cosmos. Os palaneses parecem assim ter recuperado o lugar do ser humano na Ordem natural das coisas, um lugar que ele tinha voluntariamente perdido para poder manipular e transformar a natureza à medida da sua visão antropocêntrica do mundo.
Esta vontade de reintegrar o Homem na Ordem das Coisas revela a consciencialização das gentes de Pala para a importância das questões ecológicas. Não é por acaso que a educação em Pala começa pela ecologia. Desde cedo as crianças aprendem que nada existe isoladamente, e que viver implica relacionar-se. No entanto, e de acordo com os princípios ecológicos, para o indivíduo ser parte integrante da natureza terá de viver segundo as leis do mundo natural. Terá de combater os excessos e de não destruir o que o rodeia, para ele próprio não ser destruído. Em Pala ensina-se que o equilíbrio se constrói entre o dar e o receber, por isso o Homem apenas poderá sobreviver neste planeta se tratar a natureza com compaixão e inteligência. Deste modo, os princípios da ecologia elementar desempenham um papel fundamental no aperfeiçoamento da natureza humana, acabando por ir de encontro aos ensinamentos do budismo elementar, seguido pelos palaneses.
Integrados na Ordem das coisas, os palaneses recusam-se a ser dominados pelos conceitos, e especialmente pelo conceito de tempo. Esta recusa implica uma outra: a de subjugar, em nome do Progresso, a realidade presente a um futuro incerto e, provavelmente, miserável. O Progresso (associado aos interesses petrolíferos) e o futuro não exercem qualquer espécie de fascínio sobre estes homens e mulheres pois são incompatíveis com a liberdade e felicidade de que desfrutam no aqui e no agora.
"A Ilha" parece, então, querer demonstrar que a vida, se vivida com sabedoria, pode ser o paraíso na terra. Todavia, viver com sabedoria implica uma reavaliação da natureza e da ecologia. Desta forma, a obra antecipa um problema cuja resolução se tornou uma questão de sobrevivência para a humanidade: a necessidade da reconciliação dos interesses económicos com os princípios ecológicos. À frente do seu tempo, Huxley elegeu a ecologia como um dos grandes temas utópicos da sua última obra ficcional.