Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Arte Notes.

Anotações artísticas, Ambiente & Direitos Humanos por Ana Branco.

Arte Notes.

Anotações artísticas, Ambiente & Direitos Humanos por Ana Branco.

"Uma utopia em crise"

29.01.23

António Alçada Baptista

 

«Os tempos não estão bons para quem pensa encontrar um mundo de tranquilidade e de paz. Creio que é para isso que nascemos e que toda a actividade humana devia ter subjacente os sentimentos morais na vivência de todos os outros comportamentos, nomeadamente os políticos, os económicos e os científicos. É verdade que nem todos pensam assim mas também é verdade que o exemplo dos outros devia ser motivador dos nossos comportamentos.

Confesso que, desde pequeno, me interessam, me comovem ou me magoam os actos da espécie humana e, que me lembre, nunca tive a mínima atracção, mesmo infantil, por aqueles que pretendiam impor a sua vontade aos outros. “Nunca exerças o teu poder sobre os outros de maneira que eles fiquem sem poder sobre ti.” De certo modo, este é um dos lemas da minha posição no mundo nesta matéria tão difícil que é viver em comunidade.

Viver com os outros é inevitável. Viver sozinho é quase sempre trágico: aqueles que o acaso fez viver sem nenhum contacto humano nem sequer puderam entrar na humanidade e os que, já senhores de si, resolveram optar pela solidão, acho que se subtraíram à decisiva prova humana que é a de viver com os outros. Quase todos os problemas humanos vêm daí mas é também aí que devemos procurar as soluções.

Lembro-me que Lanza del Vasto me contou que, quando ainda novo, partiu para a Índia, descrente da Europa infestada pelas guerras, foi viver junto de um guru que estava sozinho na montanha. Não aguentou a falta dos outros e foi isso que o levou a partir para o pé do Gandhi, em cuja comunidade viveu durante 12 anos e a conselho de quem regressou à Europa para fundar em França uma comunidade – L’Arche – onde o conheci e acompanhei alguns dias.

A muito custo, com avanços e recuos, a humanidade parece às vezes que caminha para um mundo de paz e fraternidade mas os homens não nos deixam viver assim. Neste momento da história parece mesmo que estamos a viver um período de regressão. O sonho da expansão da democracia e da confiança mútua foi quebrado pelo pavor do terrorismo. Entrámos outra vez num destino de insegurança mas acho que não devemos desanimar: temos de admitir um recuo numa utopia que nos parece um projecto razoável mas, como disse, estamos numa regressão perante a ideia de “paz perpétua” que sentimos no fundo de nós.

Talvez a paz não seja só a inexistência da guerra ou talvez a guerra não seja só o afrontamento de dois exércitos que espalham a destruição e a morte. É que a guerra começa nos comportamentos de cada um: na maneira como tratamos os que estão ao pé de nós – maridos, mulheres, filhos, pais, empregados, patrões, em resumo, o nosso próximo.»

in Revista Máxima

 

"Um teto todo seu"

25.01.23

 

Livro

 

Nascida neste dia em 1882, Virginia Woolf foi uma das mais proeminentes escritoras modernistas do século XX. Autora de obras como “Sra. Dolloway”, “To the Lighthouse”, “Orlando” e “The Waves”, foi o seu extenso ensaio “A Room of One’s Own” (1929) que estabeleceu o seu status como uma das vozes mais influentes do feminismo. Nele, Virginia Woolf examinou as desvantagens educacionais, sociais e financeiras que as mulheres enfrentaram ao longo da história, argumentando que: “uma mulher deve ter dinheiro e um quarto próprio se quiser escrever ficção”.


«(...) Minha tia, Mary Beton, devo dizer-lhes, morreu de uma queda de cavalo, quando estava em Bombaim. A notícia da herança chegou certa noite quase simultaneamente com a da aprovação do decreto que deu o voto às mulheres. A carta de um advogado caiu na caixa do correio e, quando a abri, descobri que ela me havia deixado quinhentas libras anuais até o fim da minha vida. Dos dois — o voto e o dinheiro —, o dinheiro, devo admitir, pareceu-me infinitamente mais importante. Antes disso, eu ganhara a vida a mendigar trabalhos esporádicos nos jornais, a fazer reportagens sobre um espetáculo de burros aqui ou um casamento ali; ganhara algumas libras endereçando envelopes, lendo para senhoras idosas, fazendo flores artificiais, ensinando o alfabeto a crianças pequenas num jardim de infância. Tais eram as principais ocupações abertas às mulheres antes de 1918. Acho que não preciso descrever em detalhes a natureza árdua do trabalho, pois talvez vocês conheçam mulheres que o tenham feito; nem tampouco a dificuldade de viver com aquele dinheiro, quando era ganho, pois é possível que vocês já tenham tentado fazê-lo. Mas o que permanece ainda comigo como uma imposição pior do que essas duas é o veneno do medo e da amargura que aqueles dias geraram em mim. Para começar, estar sempre a fazer um trabalho que não se queria fazer e fazê-lo como uma escrava, lisonjeando e adulando, nem sempre necessariamente, talvez, mas isso parecia necessário e os interesses eram grandes demais para correr riscos; e depois a idéia daquele dom único, que ocultar equivalia à morte (um dom pequenino, porém caro para sua possuidora), perecendo, e, com ele, o meu ego, a minha alma — tudo isso se transformou praticamente em ferrugem, corroendo a floração da primavera, destruindo a árvore em seu âmago.

 

Contudo, como estava a dizer, a minha tia morreu; e sempre que troco uma nota de dez xelins, desaparece um pouco daquela ferrugem e a corrosão é raspada, vão-se o medo e a amargura. De fato, pensei, deixando a prata escorregar para dentro da minha bolsa e recordando a amargura daqueles dias, é impressionante a mudança de ânimo que uma renda fixa promove. Nenhuma força no mundo pode arrancar-me as minhas quinhentas libras. Comida, casa e roupas são minhas para sempre. Assim, cessam não apenas o esforço e o trabalho árduo, mas também o ódio e a amargura. Não preciso odiar homem algum: ele não pode ferir-me. Não preciso bajular homem algum: ele nada tem a dar-me. Assim, imperceptivelmente, descobri-me adotando uma nova atitude em relação à outra metade da raça humana. Era absurdo responsabilizar qualquer classe ou qualquer sexo como um todo. As grandes massas nunca são responsáveis pelo que fazem. São impelidas por instintos que não estão sob o seu controle. Também eles — os patriarcas, os professores — tiveram dificuldades infindáveis, terríveis obstáculos contra o que lutar. A sua educação, em alguns aspectos, fora tão falha quanto a minha própria. Gerara neles falhas igualmente grandes. Sim, é verdade, eles tinham dinheiro e poder, mas somente ao preço de abrigarem no peito uma águia, um abutre, eternamente a arrancar-lhes o fígado e a bicar-lhes os pulmões — o instinto de posse, o furor de aquisição que os impele perpetuamente a desejar as propriedades e os bens alheios; a fazer fronteiras e bandeiras, navios de guerra e gás venenoso; a oferecer a própria vida e a vida dos filhos.

 

Passem pelo Admiralty Arch (eu havia alcançado esse monumento), ou por qualquer outra avenida dedicada aos troféus e ao canhão, e reflitam sobre o tipo de glória ali celebrada. Ou observem, ao sol da primavera, o corretor de ações e o grande advogado encerrarem-se em ambientes fechados para ganhar mais e mais e mais dinheiro, quando é fato que quinhentas libras anuais mantêm um sujeito vivo sob o sol. São instintos desagradáveis de abrigar, refleti. São fruto das condições de vida, da falta de civilização, pensei eu, olhando para a estátua do duque de Cambridge e, em particular, para as plumas de seu tricorne, com uma fixidez que elas dificilmente terão recebido antes. E, ao reconhecer tais obstáculos, medo e amargura converteram-se gradativamente em piedade e tolerância; e depois, passados um ou dois anos, a piedade e a tolerânciase foram, e chegou a maior de todas as liberações, que é a liberdade de pensar nas coisas em si. Aquele prédio, por exemplo, gosto dele ou não? E aquele quadro, é belo ou não? Será esse, em minha opinião, um bom ou um mau livro? Com efeito, o legado da minha tia desvendou-me o céu e substituiu a grande e imponente figura de um cavaleiro, que Milton recomendava para a minha perpétua adoração, por uma visão do céu aberto.(...)»

 

Jobim

25.01.23

 

Tom Jobim

 

Nascido a 25 de Janeiro de 1927, Antonio Carlos Jobim – também conhecido como Tom Jobim – é recordado como um dos compositores mais importantes de todos os tempos.

Pianista, violonista e cantor brasileiro, trouxe um estilo modificado de samba, popular no Rio de Janeiro, para o sucesso internacional, com as batidas da Bossa Nova. A música "Chega de Saudade" marcou o início.

 

Contra o discurso de ódio

25.01.23

Dia Internacional das Mulheres no Multilateralismo

 

A 25 de Janeiro assinala-se o Dia Internacional das Mulheres no Multilateralismo. Este ano, a UNESCO destaca a luta contra o discurso de ódio, com ênfase particular na questão do assédio e da violência contra as mulheres no ambiente digital.

A data tem como objetivo reconhecer o papel essencial desempenhado pelas mulheres na promoção dos direitos humanos, da paz e do desenvolvimento sustentável no sistema multilateral.

Em 2021, As mulheres representaram apenas 1,6% de todos os chefes de Estado em todo o mundo. No entanto, os acordos de paz têm 35% mais possibilidades de durar 15 anos quando as mulheres são incluídas nos processos de paz.

 

“Investir nas pessoas, priorizar a educação”

24.01.23

ODS4

 

O Dia Internacional da Educação que se comemora hoje, dia 24 de Janeiro, foi criado em 2018, pela Assembleia Geral da ONU, com o objetivo de sensibilizar a sociedade civil para que se cumpra o direito à educação. Em 2023, o tema é “Investir nas pessoas, priorizar a educação”.

Uma educação de qualidade é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e a chave para alcançar um futuro melhor para todos.Todos os esforços devem ser feitos para garantir que todas as crianças e jovens tenham acesso ao seu direito à educação para que possam atingir o seu pleno potencial.

 

Centenário de Eugénio de Andrade

19.01.23

 

wikipédia

Um dos mais relevantes poetas portugueses do século XX, Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas, nasceu há exatamente 100 anos, no dia 19 de Janeiro de 1923, na freguesia de Póvoa de Atalaia, Fundão.

Escreveu com 13 anos os seus primeiros poemas. Durante a sua juventude viveu em Lisboa, e em 1943, depois de cumprido o serviço militar, mudou-se para Coimbra, onde conviveu com Miguel Torga e Eduardo Lourenço.

Tornou-se funcionário público em 1947, tendo exercido durante 35 anos as funções de Inspetor Administrativo no Ministério da Saúde, a maior parte dos quais na cidade do Porto. Ao longo da sua vida, o poeta viajou muito, tendo sido convidado para participar em inúmeros eventos e travado amizades com muitas personalidades da cultura portuguesa e estrangeira, como Joaquim Namorado, Sophia de Mello Breyner Andresen, Agustina Bessa-Luís, Teixeira de Pascoaes, Vitorino Nemésio, Jorge de Sena, Mário Cesariny e Herberto Helder.

Recebeu muitas distinções, entre as quais o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores (1989) e Prémio Camões (2001). Em 1982, foi nomeado Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada e em 1989 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito. O seus livros foram traduzidos para mais de 20 línguas. Morreu a 13 de Junho de 2005, no Porto, com 82 anos.


«Se há na terra um reino que nos seja familiar e ao mesmo tempo estranho, fechado nos seus limites e simultaneamente sem fronteiras, esse reino é o da infância. A esse país inocente, donde se é expulso sempre demasiado cedo, apenas se regressa em momentos privilegiados - a tais regressos se chama, às vezes, poesia. Essa espécie de terra mítica é habitada por seres de uma tão grande formosura que os anjos tiveram neles o seu modelo, e foi às crianças, como todos sabem pelos evangelhos, que foi prometido o Paraíso.

A sedução das crianças provém, antes de mais, da sua proximidade com os animais - a sua relação com o mundo não é a da utilidade, mas a do prazer. Elas não conhecem ainda os dois grandes inimigos da alma, que são, como disse Saint-Exupéry, o dinheiro e a vaidade. Estas frágeis criaturas, as únicas desde a origem destinadas à imortalidade, são também as mais vulneráveis - elas têm o peito aberto às maravilhas do mundo, mas estão sem defesa para a bestialidade humana que, apesar de tanta tecnologia de ponta, não diminui nem se extingue.

O sofrimento de uma criança é de uma ordem tão monstruosa que, frequentemente, é usado como argumento para a negação da bondade divina. Não, não há salvação para quem faça sofrer uma criança, que isto se grave indelevelmente nos vossos espíritos. O simples facto de consentirmos que milhões e milhões de crianças padeçam fome, e reguem com as suas lágrimas a terra onde terão ainda de lutar um dia pela justiça e pela liberdade, prova bem que não somos filhos de Deus.

De início falei de poesia - é com ela que vou regressar ao reino da infância e pisar terreno mais de harmonia comigo.

Para que estrela estás crescendo,
filho, para que estrela matutina?
Diz-me, diz-me ao ouvido,
se é tempo ainda,
eu e essa nuvem, essa nuvem alta
de irmos contigo.»

in "Rosto Precário"

 

Liberdade

17.01.23

Desenho

 

Liberdade em grego, “eleutheria”, significava liberdade de movimento. Dizia respeito à possibilidade do corpo se movimentar sem qualquer restrição externa. O significado grego relacionava-se com a ausência de limitações físicas.

Em alemão, a palavra “freiheit”, que dá origem à palavra “freedom” em inglês, significava “pescoço livre”, referindo-se à ausência das correntes que aprisionavam os escravos. A palavra nasce em oposição à escravatura. A palavra grega tem um significado mais abrangente e “freiheit” seria então um caso particular de “eleutheria”.

No latim, a palavra “libertas” significava independência. Sendo ainda mais abrangente do que a palavra grega. Independência nasce da oposição à palavra dependência, em latim “dependere” que significava “estar preso a”, “estar pendurado”, “pender de”. “Libertas” assumia significados como não estar preso a nada, não estar pendurado, não ser propriedade de ninguém. Estas três palavras “eleutheria”, “freiheit” e “libertas” referem-se a liberdades externas, sem obstáculos físicos.

A palavra liberdade, na língua inglesa distingue-se por freedom e liberty. Freedom define o aspecto positivo interno da acção independente. É a liberdade moral. Liberty define o aspecto da ausência de coação exterior.

Actualmente, a palavra liberdade assume significados mais amplos, referindo-se não só a obstáculos físicos, como também internos, por exemplo psicológicos. A maioria das pessoas tem poucos obstáculos físicos, o que não significa que sejam livres. Os obstáculos psicológicos, emocionais, sentimentais, etc., funcionam como correntes que muitas vezes nos impedem de fazer escolhas livremente e usufruir da sensação de liberdade.

De um modo geral, liberdade é o estado de ser livre ou de não estar sob o controle de outrem; de estar desimpedido, de não sofrer restrições, nem imposições. Liberdade é a faculdade que o ser humano tem de escolher, ou de se decidir segundo o seu próprio parecer.

De um modo geral, o absoluto é livre. O definido, condicionado. O determinado, justificado. Livre o eternamente pela consciência mediado. Determinismo inventado, justificado, falsifica o libertado. O ser humano só não é livre, para livre não ser. O livre é condenado a escolhas fazer, e a responsabilidade delas, acolher.

 

“O trabalho digno é fundamental para a justiça social”

16.01.23

 

O mais recente relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) alerta para o facto da crise económica forçar os trabalhadores a aceitar empregos considerados de baixa qualidade e mal remunerados, por falta de melhores oportunidades, sendo as mulheres e os jovens os mais afetados.

Como os preços aumentam mais rapidamente do que os rendimentos nominais do trabalho, a crise do custo de vida está a empurrar mais pessoas para a pobreza. O texto lembra que “o trabalho digno é fundamental para a justiça social”.

 

Monólogo com a solidão...

15.01.23

Livro

 

... o são todos os diários. Este é o registo dos últimos dias de Florbela Espanca, publicado em 1981. O registo de quem usava as sensações por inteiro, de quem pedia novos enganos à vida, na profundidade sequiosa de infinito.

Viajo nas folhas até 15 de Janeiro de 1930, e retiro a passagem:

(…) Jardim por onde ecoaram tantos gritos, tantos risos, tantas blagues, todo o viço e o frémito das nossas inquietas mocidades, por onde vogaram, confiantes e exaltados, todos os sonhos das nossas almas que ainda acreditavam na glória, na riqueza, na vida e em maravilhosos destinos de lenda! (…)

 

Dia Mundial do Compositor

15.01.23

 

 

Celebra-se hoje, 15 de Janeiro, o Dia Mundial do Compositor com o intuito de os honrar, uma vez que contribuem com a sua arte para o fluir das emoções humanas, ao eternizar pequenos momentos e sensações da vida em música, um alimento para a alma.

 

O compositor é o profissional que escreve músicas. Aquele que interpreta as suas canções é conhecido como compositor ou cantautor. Na música erudita, o compositor possui conhecimento para a criação e leitura de partituras, arranjos e instrumentação para vozes específicas. Na música popular, o conhecimento de partitura não é tão essencial, sendo por vezes o compositor um escritor de letras e arranjador “de ouvido”, guiando-se frequentemente pela improvisação.

 

Pág. 1/2