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Escritora marcante “na interrogação do poder fundador da fala”, Maria Velho da Costa tinha a preocupação frequente de testar discursos fora do seu momento mais oportuno, como é exemplo “Ova ortegrafia”, uma abordagem frontal da persistência da censura no Portugal de 1972.
«Ecidi escrever ortado; poupo assim o rabalho a quem me orta. Orque quem me orta é pago para me ortar. Também é um alariado, Também ofre o usto da ida. Orque a iteratura deve dar sinal da ircunstância, e não tem ustificação oral.E ais: deve ter em conta todos os ofrimentos, esmo e rincipalmente os daqueles ujo trabalho é zelar pela oralidade e ordem ública – os ortadores.
Eu acho que enho andado esavinda omigo e com a grei, com tanta liberdade de estilos e emas e xperimentalismos e rocadilhos que os ríticos e eitores dizem arrocos e os ortadores, pelo im, pelo ão,ortam. A iteratura eve ser uma oisa éria,e esponsável. Esta é a minha enúncia ública. (Eço desculpa de esitar nalguns ortes, mas é por pouco calhada neste bom modo de scrita usta ao empo e aos odos),
Izia eu que o ortoguês que ora, nesta ora de rudência e sforço, se não reduz a orma imples, não erve a vera íngua da Pátria. (Por enquanto só orto ao omeço, porque a arte de ortar não é fácil; rometo reinar-me até udo me air aturalmente ortado e ao eio e ao im.)
Outros jovens me eguirão o rilho. Odos não eremos emais para ervir na etaguarda os que, em árias frentes por nõs se mputam.
A issão do scritor é dar estemunho e efrigério aos e dos omentos raves da istória, ao erviço dos ideais da sua comunidade, ervir a oz do ovo, espeitar a oz dos overnantes egítimos.
Olegas, em ome da obrevivência da íngua,vos eço, pois: Reinai-vos a ortar-vos uns aos outros, omo eu me ortei.»
in “Desescrita”, Afrontamento (1973)