Criatividade e mitos
Arte Notes.
O Dia Mundial da Criatividade, diferente do Dia Mundial da Criatividade e Inovação, é celebrado a 17 de Novembro e visa enaltecer a importância da criatividade para a vida humana.
Se ser criativo implica uma multiplicidade de requisitos pessoais (cognitivos e emocionais) e sociais, numa relação recíproca entre o indivíduo que muda o mundo e a aprendizagem que este constantemente lhe proporciona, também é facto que o conceito de criatividade facilita a existência de mitos, para além de ideias erradas e frequentemente nefastas que a História vai fornecendo.
Sentir-se inspirado de forma súbita e inexplicável, ser criativo porque de repente se é simplesmente iluminado para a resposta a criar, é com frequência associado à criatividade. Tais momentos existem, tanto ocorrem em criadores famosos como no quotidiano de qualquer pessoa, muito embora o conhecimento tenha aqui um papel fundamental pois previne repetições, facilita o foco da atenção no que é novo e útil e promove a associação remota de informação.
A criatividade é muitas vezes associada aos génios, sobredotados ou particularmente talentosos, promovendo a ideia de que ser criativo não é para todos, nem alvo de desenvolvimento, mas sim privilégio de alguns, numa visão elitista. Competências criativas podem ser treinadas e ser criativo é educável.
A criatividade não está circunscrita ao domínio artístico. Às vezes, há mesmo a atribuição de exclusividade no 'ser criativo' aos artistas, não se reconhecendo a criatividade em outros domínios. Ser criativo é tanto uma mais-valia em qualquer área profissional como na vida em geral.
Muitas vezes, o criador tanto aparece associado ao génio que vive inspirações inexplicáveis e episódios dramáticos, como à figura de génio louco, isto é, a associação entre criatividade e doença mental. Não há dados sólidos para uma maior incidência da doença mental em pessoas criativas face à população em geral. Pelo contrário, vários estudos demonstram a relação entre criatividade e condições para bem-estar e saúde mental. A relação da criatividade com o bem-estar esteve e está no centro do movimento humanista, sendo o criativo aquele que atinge autorrealização.
A criatividade também pode ser associada à desviância (comportamento que diverge das expectativas, normas ou valores dos membros de um certo grupo) e a comportamentos disfuncionais, pela sua diferença e incumprimento de regras. O facto de as pessoas criativas terem maior facilidade em lidar com o risco, gostarem de novas ideias e não se sentirem obrigadas a seguir padrões estandardizados de vida pode ser mais confundido com potenciais desestabilizadores e ser mesmo alvo de controlo organizacional. Porém, criatividade e desviância já foram empiricamente distinguidas. O meio pode diminuir as oportunidades para que características criativas potenciem desviância. Se as condições éticas e as regras de funcionamento estiverem bem definidas, evita-se a ambiguidade. As pessoas criativas terão menos justificações para situações que não são consideradas éticas e mais possibilidades para conciliar o seu poder divergente com a expressão criativa e motivada no contexto que frequentam.