Economia do Bem-Estar
Ana Branco
Excerto do artigo publicado originalmente na Revista da Plataforma Portuguesa das ONGD de Novembro de 2023 "Economia, pessoas e planeta: que alternativas para o bem-estar", por Stewart Wallis - Presidente e Cofundador, Wellbeing Economy Alliance.
Desenho de autora
«Por que razão é necessária uma mudança do sistema económico?
O nosso sistema económico atual está orientado para o crescimento, o lucro e a acumulação. Demasiadas vezes, este crescimento tem sido feito à custa do bem-estar das pessoas e do planeta. O nosso sistema económico tem quatro falhas sistémicas e interligadas. É insustentável, injusto, instável e gera infelicidade (com demasiadas pessoas deixadas para trás e que não se sentem valorizadas ou valiosas). Além disso, é um sistema em que já nem o "travão" nem o "acelerador” funcionam. Pretender um crescimento mais rápido do PIB dentro do sistema atual (mesmo que seja possível), com vista a criar bons meios de subsistência, necessários em todo o mundo, e a nivelar as sociedades entre si e no seu interior, conduzirá a um agravamento da perda da biodiversidade e a uma aceleração das alterações climáticas, ao passo que pretender um crescimento zero ou negativo dentro do sistema atual agravará ainda mais a desigualdade, a pobreza e as convulsões sociais.
Porquê uma Economia do Bem-Estar e em que consiste?
Ao transformarmos o nosso modelo económico atual em sistemas económicos de Bem-Estar determinados localmente, atacamos diretamente os problemas subjacentes ao sistema existente.
Uma Economia do Bem-Estar é uma economia concebida para proporcionar qualidade de vida e prosperidade a todas as pessoas, em harmonia com o ambiente. Coloca as cinco necessidades fundamentais das pessoas e do planeta no centro das suas atividades, garantindo que todas elas são igualmente satisfeitas à primeira.
Enquanto as Necessidades explicam "qual é a visão", os Testes Práticos descrevem "como saber que lá chegámos", oferecendo indicadores claros e mensuráveis dos resultados a alcançar.
Mas como é que lá chegamos? Os 4 Ps resumem o conjunto macro de mudanças de políticas/práticas que temos de reunir, como os cantos de um puzzle, para criar uma Economia do Bem-Estar.
- Propósito da economia: proporcionar o bem-estar humano e ecológico. Por exemplo, um conjunto mais vasto de medidas de sucesso do que o PIB e planos de desenvolvimento nacional visionários.
- Prevenção: não se contentar apenas em reparar o mal causado, mas evitar que o mal aconteça logo à partida. Por exemplo, os orçamentos por resultados e a produção e o consumo circulares.
- Pré-distribuição: a economia ser capaz de fazer a maior parte do trabalho pesado em termos de obtenção dos resultados de que as pessoas e o planeta necessitam. Por exemplo, empresas sociais e empresas detidas pelos trabalhadores, criação de riqueza comunitária e salários dignos.
- Pessoas no centro da decisão: garantir que as pessoas participam nas decisões e na definição da agenda. Por exemplo, as assembleias de cidadãos/ãs e os orçamentos participativos.
A Economia do Bem-Estar continua a ser um sistema de economia mista (com atores fortes no Estado, no setor privado e no terceiro sector), mas que funciona com um conjunto muito diferente de objetivos, valores, instituições e incentivos. Além disso, não só são necessárias políticas diferentes, como a elaboração de políticas deve ser feita de forma diferente, com um elevado envolvimento dos cidadãos e cidadãs ao longo de todo o ciclo das políticas públicas – desde a definição da agenda até à tomada de decisões, ao acompanhamento e à avaliação.
Não existe um modelo único para uma Economia do Bem-Estar. A configuração, as instituições e as atividades que nos levam até lá poderão ser diferentes, tanto entre países como entre diferentes comunidades dentro dos países.
Existem também outros nomes e estratégias para sistemas económicos alternativos que adotam versões diferentes do quadro de Necessidades e Testes Práticos da Economia do Bem-Estar, tais como “economia donut”, economia regenerativa, decrescimento, Buen Vivir e Ubuntu, e nós colaboramos e navegamos pelo meio destas visões semelhantes, com muitos destes movimentos a integrarem já a rede e a aliança da WEAll. Podem assentar em abordagens, linguagens e modelos diferentes, mas todas elas partilham um objetivo comum: o bem-estar para todos/as, num planeta saudável.(...)»